19 de novembro de 2010

Resenha: O monge e o executivo

RESENHA

Everson Alencar [*]
al.everson@gmail.com

HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Editora Sextante. São Paulo, 1998.

O livro de James C. Hunter "O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança” (Sextante, 144 páginas) apresenta uma abordagem simples, clara e quase pueril sobre liderança. Mas, o conteúdo é profundo, revolucionário e provocador. A proposta de liderança servidora é uma completa inversão do sistema atual de liderança empresarial.

O autor é consultor-chefe da J. D. Associados, uma empresa estadunidense de treinamento e consultoria em relações de trabalho, fundada em 1985. Como palestrante, professor e escritor (aproximadamente 2 milhões de livros vendidos no mundo) atua principalmente nas áreas de liderança funcional e organização de grupos comunitários.

O livro é sucesso de vendas no Brasil, consta entre as diversas listas de livros mais vendidos do país. A linguagem, conforme dito, é bastante simples e envolvente. Em forma de narrativa o autor apresenta uma história fictícia e enquanto os personagens vivenciam suas experiências o autor desenvolve seus argumentos sobre liderança.

A estória é sobre John Daily, um empresário, que apesar do sucesso financeiro se percebe impopular e infeliz. Na família, no emprego e até no serviço voluntário (treinador de beisebol) John é criticado, e se vê pressionado a participar de um treinamento de liderança promovido num mosteiro beneditino.
No mosteiro, John e mais cinco participantes passam uma semana sob os cuidados e o treinamento de Simeão (Leonard Hoffman), uma lenda empresarial conhecida por resgatar empresas em colapso que sumiu após a morte da esposa. Nos sete capítulos do livro os participantes compartilham e discutem suas experiências sobre liderança. O próprio leitor sente-se como se fosse também um aluno daquela classe aprendendo sobre liderança servidora.

O livro defende que a sociedade empresarial moderna fundamenta-se sobre um paradigma de liderança herdado dos modelos de guerra, no qual o poder emana do topo (generais/gerentes) para baixo (soldados/empregados). Reservado ao cliente sobra o lugar de inimigo. Sendo esse molde obsoleto, o autor propõe uma inversão nessa pirâmide. O papel do líder passa a ser o de servir e satisfazer as necessidades LEGÍTIMAS dos liderados. Ele é, então, responsável por remover os obstáculos do caminho para o que grupo possa evoluir suas atividades com perfeição.

Na base desse modelo encontram-se os seguintes valores:

1. Liderança. Diferente de gerenciar (para coisas), liderar é ter consciência de que se está lidando com pessoas. Nesse processo existem duas dinâmicas: uma que se concentra na tarefa (foco nos resultados) e outra que se centra no relacionamento (foco na satisfação das necessidades legítimas dos colegas).

2. Autoridade. Poder é exercido pela coerção e corrói os relacionamentos. A autoridade exerce-se pela influência e exige o exercício constante da habilidade de ser relacionar. É a essência da liderança eficiente e eficaz.

3. Serviço e sacrifício. É o preço pago para exercer liderança com base na autoridade e não poder.

4. Amor. A definição de amor presente no livro é a mais genial contribuição da obra. Baseando-se na diferença linguística existente no idioma grego - que apresenta quatro palavras diferentes para as nuances do amor - o autor define amor ágape como sendo comportamento – pois, ancora-se na decisão consciente – e não apenas sentimento (algo inconstante e incontrolável).

5. Vontade. Intenção sem ação é simplesmente nada! Vontade é a intenção associada às ações.
Do impacto que causa a apresentação desse novo modelo de liderança surgem diversos outros temas que também são tratados ao longo da narrativa. Por exemplo, a importância de valorizar o saber coletivo, o ouvir corretamente, modelos históricos de lideres, diferença entre comprometimento e envolvimento, etc. Os temas são exemplificados pelas próprias experiências dos personagens e são bastante enriquecedores seja na aplicação para a liderança empresarial, ou, seja no aspecto da auto-gestão.

"O monge e o executivo" é um livro agradável de ler e que promete, nos temas e na forma aparentemente simples de se apresentar, causar um impacto profundo no comportamento do leitor extrapolando o simples apresentar-uma-nova-opção de liderança para debater uma nova filosofia de vida.

[*] Everson Alencar é bacharel em Comunicação Social (2006) e estudante de Teologia no Mackenzie (inicio 2009).

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